A tarde começou a cair na praça central da cidade quando do
palco montado na véspera, acomodava as caixas de som que emitiam os primeiros
acordes das marchinhas de carnaval.
O público chegando aos poucos começava a ocupar os espaços mais próximos ao palco, todos demonstrando alegria e animação, dançavam ao ritmo da música. Alguns portando suas caixas térmicas cheias com bebidas, na maioria latas de cerveja.
Entre os foliões algumas pessoas sozinhas ou em pequenos
grupos chamam a atenção: Moradores em condição de rua. Típicos “blocos de sujo”,
mas, que apesar das agruras da vida, parecem felizes e alegres com a
oportunidade de curtir aquele evento público e gratuito.
Aproveitavam cada momento, afastados da multidão que
aglomerava na frente do palco. A alegria dos invisíveis do Brasil, uma espécie
de “Dalit” nacional - casta mais baixa da sociedade indiana, que vez por outra
tem sua alegria interrompida por infundáveis baculejos, seja da Polícia Militar
ou da Guarda Civil Metropolitana. Passado o momento de transtorno e humilhação.
Não se perturbam e prosseguem animados como se nada tivesse acontecido. Momento
corriqueiro para quem vive nas ruas da cidade, dependente do amor do próximo
através da caridade.
Pessoas logo afirmam que aquela alegria é resultado da
cachaça ou da droga. Então, também podemos fazer a comparação com as demais
pessoas perto do palco. Muitas delas também embriagadas esvaziam as bebidas que
levaram, ou até drogas quem sabe.
O que muitos críticos não sabem é que a bebida alcóolica inibe
a fome deles que nunca sabem no dia o quê e quando vão comer. No frio, mal
agasalhados, bebem para aquecer e mesmo assim em vários lugares do país alguns até
morrem por hipotermia. Alguns, acabam se envolvendo com as drogas, notadamente
o Crack por seu custo mais baixo e, por conta do vício agravado, chegam a
cometer alguns furtos.
Outro ponto é o cometimento de crimes. Normalmente as ocorrências são cometidas por pessoas com aparência normal, casual, ou criminosos do “colarinho
branco”. Basta um olhar nos noticiários policiais para perceber que os crimes
relacionados a eles são percentualmente muito menores.
O fato é que as festas populares, públicas e gratuitas dão
momentos de felicidade para esses invisíveis moradores em condição rua que
sobrevivem um dia após o outro, sempre à margem da sociedade, muitos por opção
pessoal.
JCB